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(29/05/2022, 19:21)
Lucius Auri
(29/05/2022, 18:43)Lonely Escreveu: Arte maravilhosa do Inoue:
A história do livro é baseada em um romance que o @gangrena conhece melhor do que eu. Só que existe uma diferença: aqui, o Miyamoto Musashi (O grande samurai do Japão) é um vagabundo. No livro, ele é um herói romântico. O autor faz algumas mudanças deste tipo que são bem significativas no drama da história: ele quer ser o invencível sob o sol. Para os japoneses do século XIX, ele é o ideal, aqui o Inoue faz dele um personagem mais ambíguo.
A história é muito boa, mas é um mangá muito budista, então o mangá se preocupa mais com os acontecimentos do que deixar o narrador ou os personagens falarem sem parar.
Ah, outra coisa, o romance é baseado na vida do samurai. Miyamoto Musashi existiu, é o grande samurai do Japão mesmo, etc. Muitos dos personagens existiram mesmo. A questão do mangá aqui é que ele tá no meio do caminho entre o romance, os acontecimentos reais e a criação ficcional do Miyamoto Musashi. Por exemplo, o grande rival do Miyamoto, o Sasaki Kojiro, nesse mangá é surdo, enquanto na vida real e no romance não é. Para uma primeira leitura, não precisa saber de nada disso, mas vale a pena pesquisar depois de várias leituras.
A história é sobre a vida e o caminho da espada do Musashi para virar o grande samurai do Japão. Caminho no sentido tanto literal, qua tô metafórico, como os acontecimentos da vida dele, quanto caminho no sentido budista. É um mangá que leva a sério o zenbudismo e o Miyamoto Musashi tá o tempo todo, ou saindo na porrada, ou tendo a Realidade batendo na cara dele.
Para entrar mais no enredo: o personagem principal é o Miyamoto Musashi, filho de um famoso samurai decadente que, tendo a vida caindo em desgraça, foi morar na cidade de... Miyamoto, no interior. É desde a infância um rapaz violento, tanto que mata o primeiro homem aos 13 anos. Ele vai para a guerra junto de um amigo e o lado dele perde. É caçado pelo lado vencedor, chega a matar alguns homens, mas é salvo pelo Soho Takuan, que é um monge budista. O nome dele de batismo é outro, que eu não me lembro mais, mas o monge o rebatiza com o nome mais famoso pelo qual ele é conhecido. A partir daí, ele segue uma vida errante procurando adversários famosos para a luta de espadas, buscando se tornar o imbátivel sob o sol.
Sobre a obra em si ser "silenciosa": deve ser, muito provavelmente, algo similar ao estoicismo romano de "imperturbabilidade da alma" (ataraxia); onde se ignora todas as perturbações externas e até as internas (emoções reativas, geradas por um fator externo). O budismo tem essa abordagem de ataraxia interior, mas levam isso a um nível mais extremo (até as emoções boas eles consideram como ilusão também, mas é um assunto complicado).
No mais, gostei da introdução, principalmente esse passado meio orfão/rebelde (lembrou Ashita no Joe e sua busca pela " alma em chamas").
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(29/05/2022, 19:24)
Lonely
29/05/2022, 19:24
(Resposta editada pela última vez 29/05/2022, 19:25 por Lonely.)
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(29/05/2022, 19:21)Lucius Auri Escreveu: Sobre a obra em si ser "silenciosa": deve ser, muito provavelmente, algo similar ao estoicismo romano de "imperturbabilidade da alma" (ataraxia); onde se ignora todas as perturbações externas e até as internas (emoções reativas, geradas por um fator externo). O budismo tem essa abordagem de ataraxia interior, mas levam isso a um nível mais extremo (até as emoções boas eles consideram como ilusão também, mas é um assunto complicado).
No mais, gostei da introdução, principalmente esse passado meio orfão/rebelde (lembrou Ashita no Joe e sua busca pela "alma em chamas").
Isso, só que como você vai ver, é algo bem difícil e dá para contar nas mãos quantas pessoas conseguiram chegar a esse nível dentro do mangá. O próprio Musashi amadurece bastante no decorrer da obra.
Na vida real, o Musashi escreveu tratado budistas e já que você tá falando sobre estoicismo, as 21 regras dele lembram bastante. Vale a pena dar uma olhada!
The 21 principles of Dokkodo:
1. Accept everything just the way it is.
2. Do not seek pleasure for its own sake.
3. Do not, under any circumstances, depend on a partial feeling.
4. Think lightly of yourself and deeply of the world.
5. Be detached from desire your whole life long.
6. Do not regret what you have done.
7. Never be jealous.
8. Never let yourself be saddened by a separation.
9. Resentment and complaint are appropriate neither for oneself nor others.
10. Do not let yourself be guided by the feeling of lust or love.
11. In all things have no preferences.
12. Be indifferent to where you live.
13. Do not pursue the taste of good food.
14. Do not hold on to possessions you no longer need.
15. Do not act following customary beliefs.
16. Do not collect weapons or practice with weapons beyond what is useful.
17. Do not fear death.
18. Do not seek to possess either goods or fiefs for your old age.
19. Respect Buddha and the gods without counting on their help.
20. You may abandon your own body but you must preserve your honour.
21. Never stray from the way.
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gangrena
(29/05/2022, 19:24)Lonely Escreveu: Na vida real, o Musashi escreveu tratado budistas e já que você tá falando sobre estoicismo, as 21 regras dele lembram bastante. Vale a pena dar uma olhada! Acrescentando ele escreveu o "Gorin No Sho" vulgo o "Livro dos 5 aneis", livro já foi moda nas escolas de administração junto com o Arte da guerra.
E também criou o estilo de luta com 2 espadas "Hyoho Niten Ichi Ryu".
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(03/10/2022, 15:16)
Tacalho
Prevendo que vou gostar mais disso daqui do que esperava.
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(24/12/2022, 21:05)
Lonely
24/12/2022, 21:05
(Resposta editada pela última vez 24/12/2022, 21:05 por Lonely.)
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Estou vendo o filme baseado no romance dos anos 50. Tem uma diferença para o mangá: o Matahachi não ajuda na briga (Musashi bola de aço) e a mulher mais velha mente sobre o Musashi para o Matahachi depois que ele a recusa. Matahachi também não transa com a Oko enquanto o Musashi tá para morrer, e ele, o último, seduz o Matahachi para a guerra, diferentemente do mangá. O Inoue escolheu fazer um Matahachi pior do que ele já é.
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(25/12/2022, 00:21)
gangrena
(24/12/2022, 21:05)Lonely Escreveu: Estou vendo o filme baseado no romance dos anos 50. Tem uma diferença para o mangá: o Matahachi não ajuda na briga (Musashi bola de aço) e a mulher mais velha mente sobre o Musashi para o Matahachi depois que ele a recusa. Matahachi também não transa com a Oko enquanto o Musashi tá para morrer, e ele, o último, seduz o Matahachi para a guerra, diferentemente do mangá. O Inoue escolheu fazer um Matahachi pior do que ele já é. Qual dos filmes?
Tem uma série também, mas nunca animei de ver.
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(25/12/2022, 00:29)
Lonely
(25/12/2022, 00:21)gangrena Escreveu: Qual dos filmes?
Tem uma série também, mas nunca animei de ver.
O primeiro da trilogia.
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(24/11/2023, 18:46)
Lucius Auri
Resenha sobre o mangá Vagabond: A história de Vagabond se centra em um ronin (espadachim eremita) chamado Miyamoto Musashi, com notável habilidade em técnica de espada, buscando ser o melhor espadachim de todos. Com isso esse objetivo, a história se centra em sua jornada pelo Japão, enfrentando desafios com adversários e inimigos, e principalmente sobre um "aprimoramento interior" (como fica mais explícito e claro a partir do meio da história) em busca de alcançar esse objetivo. O mangá deixa claro que, ao longo de sua jornada, o mestre espadachim/guerreiro é um "Homem Completo" (alma, mente e corpo disciplinados), e que o Miyamoto Musashi (o protagonista), apesar de ter um talento notável para a perícia e técnica da espada (disciplina do corpo e da espada) , tinha uma deficiência na disciplina da alma e da mente (que portanto, como tinha uma alma e mente mediocres, criava juízos e perspectivas distorcidas no uso da espada e do corpo, não atingindo a eficiência plena de suas técnicas). É quando Miyamoto se encontra com um monge e com um mestre espadachim (e disciplina sua alma e mente), e utiliza essa "Disciplina Inteiror" em seus combates, é que ele vai aumentando gradativamente a eficiência de suas técnicas de espada. A história de Vagabond, portanto, não é somente sobre um guerreiro com corpo excelente e com talento na perícia da espada, mas principalmente sobre uma história sobre "aprimoramento interior". Vagabond deixa bem claramente explicito, em dado momento da história, esse caráter de "aprimoramento interior", com as noções de Espada Interior e Espada Exterior, que implicam também nas noções de "Guerra Maior" ou Guerra Interior (luta contra fraquezas e vícios interiores) e "Guerra Menor" ou Guerra Exterior, quando Miyamoto se encontra com um mestre espadachim. Em dado momento, o mestre espadachim diz sua Filosofia para ser um samurai de excelência, dizendo à ele "Minha espada é una com o Céu (Paraíso) e a Terra", noção essa que causa uma "Revolução Interior" no protagonista da obra (Miyamoto Mushashi), impactando na forma como ele se enxergava como espadachim (achava que um espadachim excelente era somente ser um bom dominador de técnicas de espada, que é a "Espada da Terra/Física"), e sua jornada semi-eremítica na busca por ser tornar o maior espadachim. Isso também levanta uma pergunta: oras, se há uma "Guerra Interior/Espiritual" (luta contra os vícios, fraquezas e deficiências interiores) então tem que haver uma "Espada Interior/Espiritual" para se lutar essa "Guerra Interior", não é? E o que seria a "Espada Interior/Espiritual", ou a "Espada Celestial", que o mestre espadachim fala ao Miyamoto? Basicamente a Virtude, pois a definição de ser Homem (O Homem é a união harmônica e de excelência da alma, mente e corpo) se junta com a definição da Virtude (inclinação e disposição do Homem na busca pelo Bem, que é atingir a essência das coisas, através do desenvolvimento da excelência). Portanto, para o Homem se tornar aquilo que ele deve ser (sua essência, que é a excelência e harmônia da alma, mente e corpo) é necessário que ele busque executar a Virtude, e ser virtuoso (inclinar-se ao Bem). A Virtude, portanto, é a "Espada Interior/Espiritual", que lhe dá as condições necessárias para enfrentar a Guerra Maior (Guerra Interior). Conclusão: a frase do mestre espadachim "Minha espada é una com o Céu (Paraíso) e a Terra", quer dizer que há uma relação harmônica entre a Espada Interior/Espiritual (Virtude) e a Espada da Terra (a espada física de guerreiro e seu corpo disciplinado e treinado). Somente quem tem a "Espada Interior/Espiritual" desenvolvida (Virtude) pode dominar a Espada Física (katana, corpo).
Aqui, um trecho interessante de um livro para elucidar melhor esse conceito do mangá Vagabond:
“Na tradição islâmica é feita uma distinção entre duas guerras santas, a “guerra santa maior” (el-jihadul-akbar) e a “guerra santa menor” (el-jihadul-ashgar). Esta distinção originou-se de um ditado (hadith) do Profeta, que no caminho de volta de uma expedição militar disse: "Você retornou de uma guerra santa menor para uma grande guerra santa." A guerra santa maior é de natureza interior e espiritual; a outra é a guerra material travada externamente contra uma população inimiga com a intenção particular de submeter as populações “infiéis” ao domínio da “Lei de Deus” (al-Islam). A relação entre a “guerra santa maior” e a “guerra santa menor”, entretanto, reflete a relação entre a alma e o corpo; para compreender o ascetismo heróico ou “caminho de ação”, é necessário compreender a situação em que os dois caminhos se fundem, a “guerra santa menor” tornando-se o meio através do qual uma “guerra santa maior” é levada a cabo, e vice-versa: a “pequena guerra santa”, ou a externa, torna-se quase uma ação ritual que expressa e testemunha a realidade da primeira. Originalmente, o Islão ortodoxo concebeu uma forma unitária de ascetismo: aquela que está ligada à jihad ou “guerra santa”. (Julius Evola - Metafísica da Guerra)
Imagens que resumem todo o plot e o conceito de Vagabond.
Obs: no filme de Conan, o Segredo do Aço (relacionado à espada), aonde o pai do Conan comenta que os Deuses deixaram cair na Terra e os Homens o encontraram, é justamente a "Espada Espiritual" (a Virtude, ou a Virilidade Espiritual, que inclina o Homem na busca pelo Bem).
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(15/01/2024, 10:12)
Xenogears
Ontem estava sem demanda no trabalho e li 34 capítulos de vagabond, caraca, que mangá bom!
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(15/01/2024, 10:20)
PaninoManino
(15/01/2024, 10:12)Xenogears Escreveu: Ontem estava sem demanda no trabalho e li 34 capítulos de vagabond, caraca, que mangá bom!
Grave erro, está abandonado.
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